segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Linguagem e despropósito


Arte pra que?
Quem come poesia?
Por que melodias?

A poesia do coração cheio
Pela arte, o estômago vazio
O traço do braço vadio
O compasso dos dedos trastejantes

Destratantes de cordas e versos
A crise alimenta a poiética
A arte se é ética ou estética,
se mescla a devaneios errantes

Inconstantes métricas dilaceradas
Dissonâncias de acordes conflitantes

Se vale ou não vale...

Se a mente tanto fala e não bate
O coração tanto treme que se mantém calado

poesia é caroço, é ação
é coração em mil decibéis
razão nos compassos binários
dos traços revoltos

couraça de estética na ética dos sentimentos
por isso linguagem
por isso humano
por isso útil



Natal, 14.09.09

Renan Ramalho



quinta-feira, 30 de julho de 2009

hera-de-inverno





hera-de-inverno na parede da alma


da cor da estação

verde como a esperança

no outono, rubro apaixonado

depois cai


eu só vi cajueiro

mas vi esperança

vi paixão

cai e ralei o joelho


hera-de-inverno

cresce e toma conta

não cabe mais

escorre entre os poros

já não se esconde

são ramos

são frases

são punhais


hera-de-inverno na parede

é planta que cresce com

[apetite voraz

no formato

conforme a alma


escorre nos dedos

se mostra em versos

travessos


hera-de-inverno

era inquietude

virou poesia

Natal, 30.07.09
Renan Ramalho


segunda-feira, 6 de julho de 2009

a moradia

amor
a moradia
amor ardia na alma
acalentador

acalenta a dor
dorme calma

amor
fina paz
a morfina da alma

Natal o6.07.09
Renan Ramalho

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Tratamento Intensivo



sobre o prolongamento da vida e a morte domiciliar


Lembro de filmes em que o pai morre em uma cama quente e antiga, de entalhes trabalhados, segurando a mão de sua amada e rodeado de filhos enquanto recebe a extrema unção. Também lembro da morte de minha avó, na UTI de paredes brancas – não vi, mas assim imagino – em uma cama branca com fios por todos os lados, agulhas espetadas e uma enfermeira tentando salvá-la de seu mal, decorrente dos anos de cigarro, através de uma traqueostomia – pouparei-os de alguns detalhes que me foram revelados, embrulham o estômago, os curiosos perguntem.

Sinceramente, não tenho dúvidas que o primeiro quadro me agrada mais – ou me desagrada menos.

Hoje presentearei meus poucos leitores com um poema desagradável. Qualquer coisa leiam o poema anterior, ele é bem mais consolador e igualmente verdadeiro.

Renan Ramalho

17.o6.09


Gente estranha em leito frio

Gente fria em leito estranho


Agulha, soro lento e frio

Sopa, água e leite frio


Soro, maca eletrodo e fio

Pulso fraco, sopa rala


Sopro fraco esfria o caldo

Fôlego ralo

Por um fio


Visita

Mão quente em leito frio

Medo, morte, leito frio

Mão amiga, leito estranho

Morte amiga

Consolo




imagen tirada do blog "http://chargesprotestantes.blogspot.com/"

Renan Ramalho

09.05.09


terça-feira, 5 de maio de 2009

Boa morte

Dedicado a uma amiga especial, Nathalia Potiguara,

que um dia me confessou ter medo da morte.

Espero que ao ler essas palavras ela

possoa relembrar certas promessas eternas.


frio leito

dor aguda

me acusa

mortal!


do que me curo?


fina lágrima

finda a dor

fim da luta

doce paz....

ssagem


disperso me despeço

desperto em um novo espaço

o especular se faz inútil

tateio o inescrutável


agora sou

o tempo já não é


um novo nascimento

cores e profundidades

do que antes eram sombras

a eternidade em suave brisa


do que me curo?

a cura da eterna saudade


os braços do Pai

paz real

indizível

imortal


Natal, 02.09
Renan Ramalho


sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

a palavra

chega!
a poesia em inanição
não chega

no coração cego

palavras desafiadoras
desafiadas
cegas
por frieza enferrujam

os sentimentos cortantes
desconcertantes procuram palavras
as palavras nem sempre chegam
por fervura emudecem

até onde pode ir a palavra?

Renan Ramalho
Natal, 02.01.2009