sobre o prolongamento da vida e a morte domiciliar
Lembro de filmes em que o pai morre em uma cama quente e antiga, de entalhes trabalhados, segurando a mão de sua amada e rodeado de filhos enquanto recebe a extrema unção. Também lembro da morte de minha avó, na UTI de paredes brancas – não vi, mas assim imagino – em uma cama branca com fios por todos os lados, agulhas espetadas e uma enfermeira tentando salvá-la de seu mal, decorrente dos anos de cigarro, através de uma traqueostomia – pouparei-os de alguns detalhes que me foram revelados, embrulham o estômago, os curiosos perguntem.
Sinceramente, não tenho dúvidas que o primeiro quadro me agrada mais – ou me desagrada menos.
Hoje presentearei meus poucos leitores com um poema desagradável. Qualquer coisa leiam o poema anterior, ele é bem mais consolador e igualmente verdadeiro.
Renan Ramalho
17.o6.09
Gente estranha em leito frio
Gente fria em leito estranho
Agulha, soro lento e frio
Sopa, água e leite frio
Soro, maca eletrodo e fio
Pulso fraco, sopa rala
Sopro fraco esfria o caldo
Fôlego ralo
Por um fio
Visita
Mão quente em leito frio
Medo, morte, leito frio
Mão amiga, leito estranho
Morte amiga
Consolo
imagen tirada do blog "http://chargesprotestantes.blogspot.com/"
Renan Ramalho
09.05.09