quarta-feira, 17 de junho de 2009

Tratamento Intensivo



sobre o prolongamento da vida e a morte domiciliar


Lembro de filmes em que o pai morre em uma cama quente e antiga, de entalhes trabalhados, segurando a mão de sua amada e rodeado de filhos enquanto recebe a extrema unção. Também lembro da morte de minha avó, na UTI de paredes brancas – não vi, mas assim imagino – em uma cama branca com fios por todos os lados, agulhas espetadas e uma enfermeira tentando salvá-la de seu mal, decorrente dos anos de cigarro, através de uma traqueostomia – pouparei-os de alguns detalhes que me foram revelados, embrulham o estômago, os curiosos perguntem.

Sinceramente, não tenho dúvidas que o primeiro quadro me agrada mais – ou me desagrada menos.

Hoje presentearei meus poucos leitores com um poema desagradável. Qualquer coisa leiam o poema anterior, ele é bem mais consolador e igualmente verdadeiro.

Renan Ramalho

17.o6.09


Gente estranha em leito frio

Gente fria em leito estranho


Agulha, soro lento e frio

Sopa, água e leite frio


Soro, maca eletrodo e fio

Pulso fraco, sopa rala


Sopro fraco esfria o caldo

Fôlego ralo

Por um fio


Visita

Mão quente em leito frio

Medo, morte, leito frio

Mão amiga, leito estranho

Morte amiga

Consolo




imagen tirada do blog "http://chargesprotestantes.blogspot.com/"

Renan Ramalho

09.05.09