“E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.”
Chico Buarque
A fumaça negra no cano de escape
Ruas, prédios multicoloridos
A chuva densa embaça os vidros
A vida passa sem causar alarde
Sapatos gastos, rua, condução
Um indigente na contramão
Contra o corpo quente, bate, estende ao chão
Quebra-mola humano, humana ondulação
Amontoado de músculo, carne e osso
Desagradável, estética de mau gosto
Ambulantes olham para o lado oposto
Interessante! tem carne e osso exposto
O público cerca o grande espetáculo
A desgraça de um pobre infeliz
Alegra o instinto sádico coletivo
Lembra que a vida é vida por um triz
No jornal as cenas do ocorrido
O indigente mal socorrido
Violência, adrenalina
Audiência, carnificina
Concreto, ferro, borracha, latão
Busco a rima adequada
Por conveniência rimaria com paixão
Mas foge totalmente ao propósito da cidade
Foge ao propósito de toda velocidade, aparência ou pragmatismo idolatrados
Urgência dos bancos e das informações
Das informações dos bancos de dados
Dos dados: “mais um indigente morto”
Gente vira número, objeto, espetáculo, obstáculo...
E isso não tem nem graça, nem rima, nem métrica
Me desculpem.
Cidade cria vontade
Gente cria função
Renan Ramalho
2008
2 comentários:
caramba, não sabia que as poesias desse omi tavam assim tão fuderosas nem a pau.. kkkkkkkkkkkk
valeuu boy!
Bem, eu disse que iria ler com atenção. ^^
Pra vc, eu só deixo as frases de um amigo meu, antigo:
"E nesse ciro da miséria
rindo se diz coisa séria"
Combina com sua cidade.
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